Me sinto assim, quase que um estranho em minha própria terra, saudoso de uma paraíso que perdi. O olhar pro céu, foi durante muito, um hábito esquecido. E hoje, me flagro assustado com essa lua a se arredondar, quase cheia, quase? Olho para o céu dessa primavera de ventos frios, e imagino ausências, vazios e a saudade de um tempo que eu ainda não vivi, onde só me resta lutar, para que nessa ampulheta-relógio, seja possível ser feliz a despeito de tudo. Fico fumando ali e olhando a perolada lua, com um olhar quase acariciador... onde foi que li um verso sobre o luar numa noite de primavera?
A alegria, tem sido como o sol que se vai nos finais de tarde, como o sangue que se esvai na escuridão, dando lugar a uma tristeza plangente, que insiste por ser o meu algoz. Nessas horas, me vem à cabeça as concessões que fiz à Vida, e continuo fazendo. E eu penso, que ainda que triste, ainda que consciente, por todo o resto da areia, concessões são necessárias se quiser ser um pouco feliz.
Acabo de atravessar uma porta, que me foi aberta, para um reino de sonhos onde espero construir minha morada. Aqui, onde escrevo meus textos, fantasio... sou poeta. E eis que acabo despertando, no momento que percebo a rosa branca cravada em meu coração, se tornando vermelha pouco a pouco, enquanto sorve minha vida.
A cinza do cigarro se desprende e a cabeça se inclina seguindo-a com os olhos. A idade que tenho, os filhos que não tenho, e a pessoa que desejo amar... tudo me acompanha nessa desajeitado olhar para o céu em silêncio. Silêncio que é agradavel, ora ofensivo dentro das bocas acuadas por pedras e sangue. É assim que sigo nesse mundo aleatório, onde os escarcéis saem de bocas de lobo, enquanto simplesmente se anda pela rua, pedindo aos deuses para me libertar do desatino de pensar que sou nada... que não deixe agonizar meus sonhos mais perfeitos...
Olhando assim, a lua de cor tão tênue, eu imagino que embora uns nãos queiram e outros queiram demais, tudo é possível, e para tudo da-se um jeito, apesar dos desajeitos (se é que essa palavra existe). Olho a lua e lembro que alguém me disse, que daqui a bilhões de anos a lua se desprenderá da terra e sairá por aí a cantar solitária. Rio, daqui a bilhões de anos pode ser que nada mais exista, nem mesmo um neutron do que foi esse meu sonho...
Talvez seja pretensão demais desejar algo para daquia centenas de séculos, eu me contentaria em saber, que nesse exato instante, nessa mesma noite fria de primavera, "alguém" esteja olhando a lua, enxergando as saídas para as portas mais abertas que deixei para esses sonhos, que eu timidamente, desejei.
Pois hoje, olhando a lua, eu já não sei se posso...
"...embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor". (Baudelaire)
novembro 22, 2004
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Um comentário:
juro que fiquei sem reação.
não sabia que você escrevia também, chaos urbano. ;)
adoro conversar com você, salvador de tardes de tédio. :*
denise.
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